Geração

Estava a ler uma notícia sobre um projeto que planeia incluir cabines para dormir em aeroportos portugueses, quando me deparei com o termo Geração Millennials. Não sei se já tinha lido isto antes, mas sei que nunca me chamou à atenção. Fui pesquisar e descobri que já conhecia o conceito por outro nome - Geração Y, e que a minha geração tem um nome e está (demasiado) bem definida. No entanto, acho que essa definição faz sentido na perceção da ideia de que estar cá a morar, não é nada mais do que normal.

Ali no telemovel estou eu e o Pedro e os nossos amigos estavam sentados em frente à AIPAL, na rua 19
Ora então, a Geração Millennials inclui os nascidos entre meio dos anos 80 e meio dos 90 (embora este intervalo seja discutível), na época em que as vacas eram gordas e o mundo era mais tecnológico a cada dia que passava. Esta geração não tem trabalhos tradicionais, nem rurais ou trabalhos demasiado físicos. Porquê? Talvez porque cresceram com os pais a encararem um novo mundo de oportunidades, a protegerem os filhos e a esforçarem-se para que os filhos conseguissem mais do que aquilo que eles viam como menos positivo.

Resultado? Somos uma geração muito otimista, criativa e que procura sempre realização e valorização no que faz. Adaptamo-nos facilmente e, da mesma forma, evoluímos com facilidade na presença de uma mudança. Então, mudamos. De trabalho, de área, de casa e sem remorsos. Procuramos sempre aprender mais e sozinhos (ou com a internet). Não somos só professores, médicos ou engenheiros. Somos tudo ao mesmo tempo e sentimo-nos realizados a aprender sempre mais.

Estamos sempre online e isso tornou o nosso espaço efetivamente global. 

Eu revejo-me nisto e, assim de repente, lembro-me de um amigo que fiz na República Checa, foi visitar-me ao Porto e mora na Coreia do Sul, com quem ainda converso de vez em quando. Temos andado a viajar pela Europa com amigos que moram por aí e quando concorri a uma entrevista de emprego em Munique, fui entrevistada por um português, que pediu informações a um outro português que mora em Estugarda.

Somos consumidores informados, compramos online, não antes de lermos o que acham do produto do outro lado do mundo. Temos acesso a mais e mais eletrodomésticos e gadgets, e não estamos muito importados com a manutenção, trocamos por outros mais atualizados. Sim, somos menos pacientes e temos uma característica nova: o multi-tasking. Eu tenho sempre pelo menos 10 páginas abertas, entro em stress se o computador está lento e se as páginas são pouco user-friendly. E isso não é mau, é diferente. 

Sabiam que vemos muito mais vídeos em computadores ou smartphones do que televisão?


No fundo o problema é que aos 8 anos sobrou um computador lá em casa que passou a ser o meu. Criei um email um ano depois e já participava numa rede social chamada a Cidade da Malta. Aprendi a utilizar o Word e o Excel sozinha e ainda sou do tempo em que apresentar um trabalho escrito a computador no 5º ano era muito "à frente". O WordArt era visto como bonito e irreverente e o meu atual namorado não me pediu o número de telemóvel, pediu-me o endereço de email. A verdade é que eu tive um telemóvel muito depois de ter acesso à internet e isso fez toda a diferença para que ela se tornasse uma necessidade básica. E se a distância para as nossas famílias é tão curta atualmente, é porque a internet é um bem necessário e básico e torna tudo muito mais fácil. No outro dia até disse ao meu pai a que horas era uma apresentação lá na terrinha - terrinha tão pequenina que é aldeia, mas que disponibiliza informações online.

A internet é um mundo tão grande que a rádio sobrevive porque se soube adaptar a ela. Nós apoiamos causas e projetos através de crowdsourcing e criamos os nosso próprios projetos de crowdfunding. Temos Start Ups e queremos ser chefes de nós próprios, de pijama e sem sair de casa. É possível, é todos os dias mais possível e real.

É verdade que vivemos, também, num ambiente volátil e a constante mudança pode causar algumas problemas psicológicos e sintomas de solidão. Se por um lado apoiamos mais causas sociais e culturais, por outro temos uma menor consciência política e uma necessidade de ser sempre jovem, o síndrome Peter Pan. Há que procurar um equilíbrio. Mas também há uma necessidade inerente de que todas as instituições que nos rodeiam consigam adaptar-se a nós, consigam adaptar-se ao efémero, sem perder a essência. O que não se adaptar, o que não for criativo perde-nos e morre.

E não, não somos todos assim, daí achar que há uma definição demasiado concreta para esta geração. Há tanta gente da minha geração com medo de mudar, acomodados, e que não vê na internet mais do que o facebook. Mas, sim, é o que caracteriza a nossa sociedade no mundo e uma forma de mostrar que não foi preciso coragem para vir, foi apenas sermos nós próprios.
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4 Comentários fofinhos
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Eu concordo com tudo mas só retenho uma coisa... a "Cidade da Malta" era mesmo muito fixe!! :) Eish, que eu já não me lembrava disto!

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A propósitos: https://web.archive.org/web/20120115160812/http://www.cidadedamalta.pt/homepage_mae.htm

E alguns comentários em: https://www.reddit.com/r/portugal/comments/2471uz/pessoal_com_20_e_poucos_anos_lembramse_da_cidade/

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Era MESMO como eu me lembro. Pensei ter uma ideia romântica da coisa, mas não, aquilo era mesmo bem feito!!!!

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